O bom baiano bonachão Dorival Caymmi cunhou a frase título em fins
dos anos 1.940. Quando ela ganhou os ares, emoldurada de acordes exatos e
simples, a terra à qual se referia era o país como um todo, não só sua
querida Salvador, mesmo porque já residia no Rio de Janeiro. Pois de lá,
via Rádio Nacional, o samba chegava aos mais distantes rincões, do
Oiapoque ao Chuí, passando, naturalmente, pela nossa Morada do Sol.
O samba, dentro da era Vargas, soava como o amálgama perfeito entre a
esfera política e a social. É como se o povo mais humilde emprestasse
sua cultura para que o país como um todo pudesse ser representado no
estrangeiro. A elite econômica e a erudita também assinavam embaixo, ao
ponto de um advogado mineiro, de nome Ary Barroso, ter costurado a
pioneira menção com “Aquarela do Brasil”(1.939), esta, talvez, a música
brasileira mais gravada e tocada no exterior até hoje.
No Rio os desfiles das escolas de samba já haviam passado para o
controle da Secretaria de Turismo da cidade maravilhosa; São Paulo, que
em priscas eras carnavalescas saia com os seus cordões, sinalizava com a
fundação de suas primeiras escolas. Aqui em Araraquara, as rodas de
batuque e umbigada comandadas por seo Santo Antonio iam, aos poucos, incorporando cavaquinhos e violões para, na década de 1.960, despontarem nos desfiles de Momo.
O samba que hoje conhecemos, identificamos e praticamos – seja na
roda de um shopping de São Sarney do Maranhão, no Recanto Mineiro
candango do Distrito Federal ou no Ponto Chic do Salomão da Vila Xavier –
tem DNA, tem estrada, tem bagagem. Sofreu sérias ameaças ao final da
década de 1.980 e demorou quase mais uma década para que no fechamento
do antigo milênio a rapaziada então percebesse que a globalização
galopante pós Berlim/1.989 estava com seríssimas intenções de enterrá-lo
e substituí-lo pelo pagode. Mas como dizem que Deus é brasileiro e o
céu cobre e acolhe a todos, acolheu o pagode e conservou o samba. O
samba-gaúcho-canção de Lupicínio, o samba-paraíba-xoteado de Jackson do
Pandeiro, o samba-do-interior-do-coração de José Roberto Tellaroli, o
samba da minha terra…
publicação original do Jornal Tribuna Impressa e portal Araraquara.com dia 19/08/2010