DERMEVAL NOS CONVIDOU…O SAMBA ELE MORA NO CÉU

Este 2010 nasceu predestinado para ser inesquecível. Ano do centenário do meu Corinthians, ano do centenário do Noel, ano do centenário do Adoniran. João Rubinato, descendente de italianos, era o nome de registro do grande bamba do Bexiga, bairro boêmio da Paulicéia. Entre suas centenas de crônicas musicais em forma de samba, no “Samba do Arnesto” Adoniran sintetiza a frustração, o inconformismo e as desculpas, sentimentos humanos tão próximos e tão opostos, em versos memoráveis como “o Arnesto nos convidou/o samba ele mora no Brás/nós fomos e não encontremos ninguém/nós vortemos cuma baita duma réiva/da outra vez nós num vai mais”, destacando o dialeto do cidadão comum da metróple paulista.
Dermeval – outro nome incomum, como Adoniran – nos convidava sempre para degustarmos um peixe à moda maranhense, uma feijoada gorda de estalar os lábios, em sua recém-reformada e decorada cozinha. Era um ritual, tudo feito sem nenhuma pressa, para que aperitivássemos a nossa amizade ao som do mestre Cartola e dos grandes bambas do jazz, seu gênero musical preferido. Seu discípulo e filho Vinícius segue desde criança seus passos, seja no futebol – ambos craques da pelota – seja no bom gosto musical – ambos adoram MPB e jazz – seja nos dotes culinários – ambos adoram curtir os amigos regados a cerveja e comes apreciados por qualquer Chef profissional. Prefiro conjugar o verbo no presente do indicativo do que no passado do subjetivo.
O Dermeval – não só nome incomum, mas uma pessoa incomum, no seu trato atencioso, na sua crítica áspera e correta, na sua dupla cidadania de pai e mãe simultâneos – a que me refiro é o já saudoso Liminha, o Liminha do Instituto de Química da Unesp, o Liminha dos campos do Estádio Municipal e do Tom, o Liminha que tive o prazer de levar para a Rádio Brasil FM – na época do Ivan Roberto – para apresentar um programa sobre jazz e nos ensinar a gostar do gênero, o Liminha que perdemos há pouco mais de dez dias. Particularmente para mim, sua despedida é muito dolorosa pois aguardava a chegada do meu segundo CD para lhe presentear com uma visita, na qual imaginava que novamente iríamos aperitivar a nossa amizade antes de saborearmos uma cachara na brasa, que num domingo desses me presenteara em minha casa, ao som de Roberto Ribeiro – o Dermeval Miranda Maciel do samba, de Cartola e de Adoniran…Mas não deu tempo…O Samba do Dermeval, hoje, não mora no Brás…O samba ele mora no céu!
publicação original do Jornal Tribuna Impressa e portal Araraquara.com dia 09/12/2010