Aqui em Araraquara, particularmente, temos a sorte de contar com
vários ilustres habitantes, expoentes de todas as áreas e manifestações
culturais. Um deles, com certeza, é Salomão Alves, nascido e criado na
Vila Xavier, de idade ignorada e muito questionada, pois o mesmo afirma
ainda não ter chegado aos 70, versão imediatamente replicada pelos mais
chegados amigos que, de forma uníssona, rebatem dizendo que na época de
seu nascimento, nem cartório de registro civil existia na então
“Freguesia da Vila de Aracoara”, codinome de nossa cidade quando Pedro
José Netto, seu fundador, a fez surgir, em 1817.
Salomão, do alto de sua experiência, fala mansa e tiradas geniais,
não usa – e nem conhece – telefone, quanto menos internet e computador,
segundo ele mesmo, modismos que pouco acrescentam à cultura social.
Desde que se conhece na sociedade, luta, articula, cria e vibra com a
manutenção das raízes musicais do país que ele próprio ouviu se
independer da coroa portuguesa, contemporâneo que foi de D.Pedro I, a
quem, carinhosamente, o trata até hoje de “Pedrinho do Fico”, em função
de seu célebre discurso “se for para a felicidade geral da nação, diga
ao povo que fico”.
Batalhador incansável, foi a partir de sua iniciativa que a gloriosa
Banda do Fuá, debutante no pós-carnaval dos anos 1970, voltou à ativa,
hoje abrindo oficialmente os festejos de Momo, no sábado anterior ao
sábado de Carnaval definido pela Igreja Católica, detentora oficial da
data profana; também se originou dele e de seu grupo de amigos a
formação e infalível apresentação anual do Grupo Manifesto Popular no
Teatro Municipal, geralmente nos idos de Setembro.
Seu legado – trilogia cultural – tem seu ciclo anual encerrado com o
tradicional Samba do Ponto Chic, um dos mais antigos bares em
funcionamento da cidade, surgido em 1.923, ano muito lembrado por
Salomão devido ao nascimento de seu terceiro bisneto afilhado,
Pitágoras, nome aliás sugerido por “Saloma” devido sua grande admiração
pelo filósofo e matemático grego com o qual mantinha correspondência em
sua juventude.
Marcado sempre para a última sexta-feira do ano, neste 2.010 se dará
no dia 30 de Dezembro, excepcionalmente uma quinta-feira (a partir das
20 horas), pois dia 31 Salomão irá se deslocar para São Paulo a fim de
se medir atleticamente na São Silvestre, como o faz desde a primeira
edição da prova, a qual nunca venceu e nunca conseguiu completá-la,
aliás uma de suas maiores frustrações…Tem nada não, mestre, dia 30
estaremos juntos mais uma vez para sambar no Ponto Chic…Todos que amam o
samba se juntem a nós, cantando até a cerveja acabar. Feliz Natal,
fulgurante 2011.
Publicação original do Jornal Tribuna Impressa.