Na prática dessa ordem unida global, entenda-se isto pela permanente renovação de produtos de consumo, sejam eles de comer, de vestir ou de ouvir, entre os milhares de segmentos de mercado da indústria, incluindo, é claro, a cultural. O lema é destruir os grandes ícones e, de forma volátil e inescrupulosa, fabricar novos ícones, que já nascem com prazo de validade, pois até eles, que nem bem nasceram, já tem data para saírem das prateleiras, tratados que são como meros objetos de consumo.
Na música, em particular a brasileira, reconhecida como uma das mais ricas e belas do planeta, não haveria de ser diferente. As marchinhas de carnaval, a bossa nova e o samba, só para citar três das trinta e três vertentes distintas existentes no país – segundo levantamento feito pelo exímio flautista Altamiro Carrilho – devem dar lugar ao novo, gerando, respectivamente, o axé-music(?), o sertanejo romântico(que me confidenciaram recentemente estar sendo reconhecido também como “agromusic”?) e o pagode-de-butique. O interessante desse processo é que dentro de cada nova vertente fabricada, os seus ícones são voláteis e, num prazo meteórico, saem das manchetes para dar lugar ao novo ícone. Era Carla Peres, passou por Daniela Mercury, agora é Claudia Leite e assim vai. Quando os donos das multinacionais fonográficas percebem o nível próximo do esgotamento, tratam de inventar uma nova vertente, num processo aparentemente ininterrupto.
A população, cada vez mais induzida a receber milhares de informações on line e, com as escolas capengas, não tendo formação para interpretá-las, embarcam no consumismo desenfreado. E assim, via de regra, se renova, externamente, nossa sociedade, iludida pelo discurso barato que aprendemos na infância, de que “a maioria vence”. Fiquemos com a maioria porque assim seremos vencedores…
E aí, para os ouvidos menos calibrados, despojados de sensibilidade, as marchinhas, a bossa nova e o samba passam a ser entendidos como vertentes musicais ultrapassadas, “ músicas de velho”…Sei não, acho que velhos são as aves de rapina que estão por trás dessa manobra mundial pela implantação da mediocridade cultural…
publicação original do Jornal Tribuna Impressa e portal Araraquara.com
dia 12/05/2011