Stanislau Ponte Preta, pseudônimo do saudoso jornalista Sergio Porto,
que, além de ter trazido de volta para o cenário do samba Angenor de
Oliveira, o mestre Cartola, em 1.962, ao reconhecer o baluarte
mangueirense trabalhando num lava-jato carioca, compôs o hilário “O
samba do crioulo doido”, uma síntese musicada dos acontecimentos
históricos da política tupiquinim, se hoje estivesse entre nós, com
certeza, iria ajustar sua verve irônica e ferina para o que a grande
mídia batizou de nova crise econômica e, talvez, criasse “O samba do
branco canalha”, homenageando o sistema global capitalista, baseado no consumo democrático, desde, é claro, que se tenha dinheiro para se consumir, caso contrário, africanizem-se os descontentes…
Africanizem-se?!?…What’s that?, bradaria em um desses fictícios
versos o lorde inglês, descendente em trigésima geração dos capitães de
mar-e-proa da temida armada anglicana, a qual sugou a África do Sul,
deixando o povo de lá no bagaço, mas que de lá não saiu por causa dos
diamantes…Q’ues qui cé?, engrossaria o coro dos indignados o tataraneto
de Napoleão Bonaparte, figura inoportuna a serviço do imperialismo
francês, o qual pintou e bordou na Argélia, Senegal e Costa do Marfim,
deixando as etnias de lá sem ver o marfim e o dinheiro de sua
comercialização, mas que se pinicaram de lá porque o marfim já não vale
quase nada…
Como se esgotaram meus parcos conhecimentos sobre idiomas
estrangeiros, não saberia aqui evoluir – mas o Sergio Porto saberia, me
desculpem – sobre as exclamações dos louros senhores de tês avermelhada
pelas cervejas encorpadas de Bruxelas, que se indignariam sobre as
“calúnias” que seriam levantadas pelo sagaz jornalista sobre a devassa
étnica no Congo Belga e Ruanda, e por aí seguiria o samba, talvez com
refrão eloqüente – parodiando Adoniran em Saudosa Maloca com “joga as
casca pra lá” – vindo dos nossos pais portugueses colonizadores, que
além de nos explorarem, deixaram em penúria Angola e Moçambique, países
que literalmente viveram entre as cascas de coco de guerras civis até
bem pouco tempo…
“O mundo é uma roda feito um carrossel/quem foi lá pro alto já
voltou” – versos magnificamente cantados e eternizados por Beth
Carvalho – simbolizam de forma exata, neste momento, o cenário mundial,
com as grandes economias européias em guarda baixa, acusando o nocaute
de um sistema por eles mesmos inventado a partir da revolução
industrial. Todas as grandes bolsas de valores de Londres, Paris – sem
falar em seus descendentes de Wall Street – sambando pra valer,num
grande e oportuno partido-alto do destino, roda de samba em que todos
rodaram. Deixaram a África de fora do banquete, já que nenhum deles se
preocupa, realmente, com Somália, Etiópia, Líbia (ops, sorry, ali tem
petróleo!), miseráveis do continente africano abandonado à própria
sorte, pois eles não tem dinheiro pra consumir. E a Grécia, tem? E a
Irlanda, tem? E Portugal, tem?…Até a Itália de nossos ascendentes está
rebolando as cadeiras…Sambem, sambem bastante, aproveitem o momento de
repensar o assimétrico e excludente sistema capitalista, quem sabe as
próximas estrofes do Sérgio Porto possam ser alvissareiras…
publicação original do Jornal Tribuna Impressa e portal Araraquara.com
dia 25/08/2011