A BOA NOVA DO SAMBA

Neste período de festas a humanidade, a partir de uma de suas características mais exploradas pelo capitalismo –  o ser consumista – troca desejos de muita paz, saúde e, principalmente, presentes, alvíssaras para um ano novo melhor. Entre as centenas de abraços, apertos de mão, sorrisos e choros emocionados pelas lembranças e saudades que marcaram o ano que se foi, guardarei desde já e pra sempre um presente que me foi dado pela querida Nininha, esposa do Miguel, mãe do Tico e do Caê, vovó do Gabriel e do Rafael, sogra da Joice, irmã do Bob, filha do Dr. Rafael, pessoas que há muito fazem parte da nossa família.
Um DVD de nome inquestionável – “Batuque de tudo” – o mais recente e maravilhoso trabalho do compositor, cantor e amigo Celso Viáfora, que além de todas as qualidades artísticas e humanas que carrega, é, antes de mais nada, um grande e sofredor corinthiano como eu. Esse trabalho, num primeiro momento, obviamente nos levaria a pon derar a balança das faixas para a praia do samba, mas não é isso o que ocorre. Claro que há sambas – de partido alto, de roda – no entanto, o trabalho é quase que uma aula das diversas células rítmicas que percolam e afloram pelo extenso continente Brasil.
Letrista exímio, de linguagem clara e afiada, convocou diversos parceiros amigos para darem sua criativa participação artística – o paraense Nilson Chaves, o araraquarense Caê Rolfsen (que apesar da pouca idade já é uma realidade no mundo da música popular brasileira, seja nos arranjos, seja no violão, seja na interpretação e composição, seja na direção musical a qual tive o privilégio de contar em meu segundo CD), os paulistanos do Quinteto em Branco e Preto, o carioca Ivan Lins…
A sonoridade do trabalho é ímpar, magnífica, de encher a casa e a alma de alegria e esperança pela boa música voltar à tona das programações midiáticas (claro que aí vai um pouco de utopia). Falaria por muitas e muitas outras linhas sobre o trabalho, mas como precisamos ser sucintos, gostaria de destacar uma parceria do Celso com o Ivan Lins – parceiros já há algum tempo – intitulada “Boa Nova”…Trata-se de algo que poderíamos afirmar surgir de alguma divindade musical, de melodia simples mas divisão sábia, tal como Baden e Vinícius fizeram com “Samba da Benção”, como Moacir Santos e Nei Lopes replicaram em “Luanne” e outras jóias raras que periodicamente surgem na nossa MPB. Melodia do Ivan (e de um terceiro parceiro português Beto) hipnotizante, letra do Celso, obra prima, algo sem tradução…Só ouvindo para se ter noção da mensagem…Esta é a minha “boa nova” para todos neste 2011!

Publicação original do Jornal Tribuna Impressa. | 6 janeiro 2011