Início dos anos 1960. Toquinho ainda estava aprendendo a tocar violão
com o corinthiano Paulinho Nogueira. Vinícius de Moraes, nessa
período, parceirizava-se com Tom Jobim, Carlinhos Lyra e Baden Powell,
entre outros craques. Com este último, após certa internação – também em
parceria – alcoólica, na famosa Clínica São Vicente da capital carioca,
compôs o apoteótico Samba da Benção, cuja gravação original passava dos
6 minutos, um recorde para a indústria fonográfica da música popular.
Entre outros bordões magistrais grafados nessa obra prima (e depois dizem que álcool faz mal à saúde), lembramos, de prima, de “é melhor ser alegre que ser triste”/ “ fazer samba não é contar piada”/ “o bom samba é uma forma de oração”, entre
todos os outros versos, inesquecíveis também; entre cada estrofe
melódica se agregavam homenagens a grandes celebridades musicais,
conclamando ‘saravah” para amigos boêmios como o maestro Moacir Santos, o
violonista Edu Lobo e a magnífica Maria Bethânia (há de se ter muito
cuidado em se utilizar a palavra celebridade hoje em dia, banalizada que
está quando ouvimos pela mídia sobre o dia-a-dia das “celebridades”
Mulher-melancia/Xuxa/Bruno&Marrone).
Forjado no apogeu da bossa-nova, esse samba ousava pela simplicidade
de sua harmonia, por mais paradoxal que fosse pra época, simbolizando
mais um exemplo, em nossa caminhada, de que o difícil é se fazer o
simples. Quatro acordes, genialmente seqüenciados, carregam a obra pelo
tempo recorde citado sem transpirar cansaço e repetição, já que o verso
posterior se incumbe da função de gerar aos ouvidos a renovada
expectativa criada no verso anterior.
Em sua finalização, os autores pediam a benção aos grandes sambistas
que lá de cima emanavam sua inspiração, como Geraldo Pereira e Noel
Rosa, bem como aos sambistas que ainda compartilhavam este andar de
baixo, como Cartola e Wilson Batista. Inspirado na atmosfera desse
abençoado samba, Paulinho da Viola, em 1996, nos presenteava com
“Bebadosamba”, faixa-título de seu CD, no qual, em forma de prece, torna
a pedir benção a outros grandes nomes do samba e da música popular
brasileira de raiz. Parafraseio aqui Vinícius, Baden e
Paulinho, e peço, araraquarensemente, benção ao nosso violonista Osvaldo
Garcia, um manifestante popular que recentemente partiu, bem antes da
hora, daqui para uma melhor. Bença, Tchê…
publicação original do Jornal Tribuna Impressa e portal Araraquara.com dia 14/10/2010