SAMBA E DEMOCRACIA TEM… LÁ NO BAR DO BELÃO

Com a frase acima fechava-se o refrão do samba-de-enredo do Bloco do Bar do Belão, que saiu na avenida carnavalesca em 1995, em seu pioneiro desfile.O início do refrão do samba vinha assim: “Foi a D. Maria quem…gerou a tradição” – samba feito em parceria com o grande Ciro Donizete Passos, o Pitoco – focava a querida D. Maria, mãe de Mario Vargas da Silva Filho, figura lendária conhecida por Belão, que aliás aniversariou nesta primavera, dia 25 passado.
Belão, com o apoio da “mama”, abriu as portas de seu bar ao final de 1.983 para a população em geral e, para o samba, em particular, aos sábados à tarde, por ininterruptos 13 anos, até o seu fechamento em 1.996. Histórias e mais histórias, personagens e personagens, quanto riso, oh, quanta alegria, conforme Zé Ketty dizia. E havia muita anarquia na concepção do atendimento, por isso era um lugar único. Lembro-me do amigo Arnaldinho Smirne ter “faltado” a um sábado de samba e, na hora de acertar sua conta – os clientes mais assíduos pagavam no final do mês – Belão, em sua somatória (além da data e da idade do cliente), incluiu o consumo feito pelo amigo naquele sábado em que ele havia faltado. Ao reclamar dessa parcela – já que não adiantava mesmo tentar descontar a data e a idade – Arnaldinho teve que dormir com a seguinte frase: “Você não veio por que não quis, o bar estava aberto e eu trabalhei, portanto pague e não reclame”…
Palco de memoráveis rodas de samba – D. Ivone Lara apareceu por lá em 1991 e sambou no pé, ao som de “Samba sem cavaquinho não é samba/tem que ter pandeiro e um violão” –  nosso Doutor em samba Sérgio Macedo compareceu com sua dupla de surdos Dudu e Ademir da Guia, palmeirense roxo que é só comparável ao Humbertão “Perverso” Perez, Gê Negrão fez uma performance de “Nega Luzia” com vassoura e pano de chão, Marcelão Parreira por milhares de vezes mordia o canto da língua para fazer evoluções em seu pandeiro e um amigo do Chico do Couro conseguiu estourar a pele de um tantan em função de sua incompetência sonora ao afinar o instrumento…Muita saudade de tudo e de todos…
Hoje, ao parabenizar o Belão, aproveito para parabenizá-lo – e a D. Maria que o incentivou – pelos 13 anos de samba que o bar vivenciou e nos deu chance de manter a chama acesa…Salve o Bar do Belão, esquina histórica, Cristóvão Colombo com Padre Duarte. Um descobriu o samba, o outro o abençoou…
publicação original do Jornal Tribuna Impressa e portal Araraquara.com dia 30/09/2010