| 14 abril 2011
Este ministro tem trajetória muito peculiar. Quando veio ao mundo, ao sair da barriga materna de Dona Paula, esboçou seu primeiro choro, cujos ecos reverberavam pela sala de estar da casa onde rolava um sarau comandado por Jacob do Bandolim, muito bem acompanhado pelo patriarca do lugar, “seo” Benedito Cesar de Faria, violão chorão extremamente educado.
Esse esmero na educação musical foi o condicionante maior em sua educação para a vida. Pessoa atenciosa para com todos que o cercam, sempre com um sorriso no rosto, aos catorze anos fora lembrado pelo pai que ele precisaria ser “doutor”, poderia ser em engenharia, filosofia ou medicina. Mas, do berço de sua serenidade, replicava todo constrangido que a sua inspiração “era se tornar sambista”, apesar de que na tréplica, teria ouvido que “sambista não tem valor nesta terra de doutor”…
No meio termo desse cabo de guerra, trabalhando como bancário e já dedilhando violão e cavaquinho com maestria, veio-lhe o convite feito por Zé Ketty para que viesse a integrar um conjunto para tocar, inclusive, no legendário Zicartola, década de 1.960. Embarcou numa viagem sem volta. Pouco tempo depois – e já com a alcunha definitiva, presente do próprio Zé Quietinho – visitava a Portela a convite do primo Oscar Bigode, onde recebeu acolhida dos bambas de sua Velha Guarda, a qual ele próprio ajudou a eternizar, a partir da produção, em disco, dos registros dos antológicos sambas de Oswaldo Cruz , isso em 1.970.
E de lá pra cá, responde, garbosamente, pelo apelido de Paulinho da Viola, que, condecorado ministro fora, quando de uma temporada pela ex-capital federal Salvador, a pedido do Sr. Oscar da Penha, o saudoso Batatinha, tipógrafo de ofício e sambista maioral da Bahia de todos os orixás …Que em versos memoráveis, grafara, com letras maiúsculas: “ O samba bem que merecia/ter ministério algum dia/então seria ministro/Paulo Cesar Batista Faria”…Que é o nome de batismo do nosso querido Paulinho da Viola, que hoje visita a cidade, no Ginásio de Eventos do Sesc, a partir das 22:30h.
Lembro-me da última vez que esteve pela cidade, 2.003, em show no Clube Araraquarense. Marcamos uma rápida entrevista para antes do show e, dos dez minutos combinados, avançamos para quase hora e meia de bate-papo, que só não se prolongou devido à intervenção de sua filha – e assistente de produção – Cecília, que, agitada, nos interrompeu devido ao adiantado da hora. Paulinho, do alto de sua calma, abortou a “bronca” dizendo que nós éramos seus amigos, e que a conversa estava muito boa. Não a convencendo mas sem esconder o sorriso, se despediu da gente antes de subir ao palco, após revelar, entre gargalhadas, que o enigmático protagonista do samba “O velório do Heitor”, era, na verdade, um tio seu…Esse é o nosso Paulinho…Salve o Paulinho, salve o Ministro do Samba.
publicação original do Jornal Tribuna Impressa e portal Araraquara.com
dia 14/04/2011