O salonismo araraquarense sempre fora muito forte, revelando times inesquecíveis, como a própria Ferroviária do saudoso Liminha e seu mano Percy. Na década de 1.970 foi a vez de fazer história os Preocupados, da geração imediatamente anterior à minha, com craques do naipe de Paulão Schwartzman, Comida – irmão do Careca – e Dênis Lima e seu drible milimétrico inigualável, alinhavando uma série de jogadores de categoria, os quais tive o prazer de ver jogar, torcer e aprender muito nas arquibancadas do Gigantão, hoje fechado para reforma.
No ano de 1.980, após o fim das atividades dos Preocupados, Lineu Carlos de Assis, o famoso Líncaras, corinthiano de quatro costados, já envolvido no futebol de campo com o Sporting Benfica do “seo” Alvaro Fleury Fina, um amigo de todos os esportistas da cidade, resolve adentrar as quadras com a fundação do W.L. Publicidade Futebol de Salão Clube, para disputar não só os certames locais mas, principalmente, reprojetar o salonismo araraquarense no cenário estadual. No elenco, o também saudoso Rui Júlio, Mané, Espingardinha, Tatalo, o próprio Dênis “bodinho”, todos feras daquela geração que assistia da arquibancada e que, de repente, se misturaram à minha geração que contava com Léo Paulo, Blundi “cebolada”, Carlos “queijo”, Fran, Chiquito e outros grandes amigos.
O time fazia “vaquinha”, bingos para levantar recursos para pagar taxas e o combustível das Kombis que nos eram cedidas pela Prefeitura local junto com o motorista. Pouco tempo depois, começamos a viajar de micro-ônibus e, aí, o samba se encontrou com o futebol de salão. Viajava junto com a delegação cavaquinho, atabaque, pandeiro, chocalho, tamborim, além de convidados que se escalavam até para viagens distantes, só para curtir o jogo e, principalmente, o astral que emanava das rodas de samba que se formavam no ônibus desde a Praça da Santa Cruz, de onde partíamos.
Muitos “gritos de guerra” para levantar a moral do time foram criados nessas rodas, muitos sambas pavorosos nasceram dali, como um, impagável, paródia do belo “samba no quintal”, gravado pela Beth Carvalho, que em seus versos apoéticos grafava pérolas como “o Kiss pediu grana pra comprar pastel/ o Padre alegou não ter dinheiro/a grana tá curta, ela não cai do céu/ e eu não sustento maconheiro…”.
Éramos um dos poucos times do campeonato estadual em que os jogadores nada recebiam para jogar.E nem precisava. Seria covardia com os adversários um incentivo salarial.Já recebíamos muito, recebíamos a alegria do samba, que nos unia em quadra…
publicação original do Jornal Tribuna Impressa e portal Araraquara.com
dia 23/06/2011