Apenas uma combinação numérica interessante, pode ser, a
reboque da data da última sexta,11 do 11 de 2011… Uma data histórica,
talvez, e que, no distante ano de 1695, certamente teve um grande
significado… É que já faz tanto tempo, nossa memória não a armazenaria
até hoje, a não ser que ainda estivéssemos nos idos do ginásio, quando o
ato de lecionar História era um tanto quanto, digamos, abafado, já que o
importante era saber, por exemplo, quando ocorrera a Queda da Bastilha,
ou então, da Abertura dos Portos às Nações Amigas de D.João VI, ou,
ainda, da Assinatura da Lei Áurea, 1888, lembram-se?
A verdade é que nunca me recordaria dessa data, pois a mim e
a todos os alunos daquela época – época em que o ginasial se desdobrava
nos ditames da ditadura militar brasileira – não nos foi passado
absolutamente nada sobre Vinte de Novembro. E, convenhamos, nem pegaria
bem, argumentaria uma coordenadora pedagógica ou um supervisor de ensino
de carreira, pois nesse dia ocorrera, no distante século dezessete, o
assassinato de Zumbi dos Palmares, na Serra da Barriga das Alagoas, pelo
líder bandeirante Domingos Jorge Velho.
Zumbi??? Quem é esse Zumbi? Aliás, estrategicamente, dentro
do saber da cultura européia dominante, e de forma pejorativa, Zumbi se
tornou, ao longo dos anos, sinônimo de pessoa um tanto quanto fora da
realidade, um cara “zoado”, como hoje a moçada diz; por outro lado, e
seguindo a lógica acima, os heróis bandeirantes é que deveriam ser
enaltecidos, independente de eles terem sido os responsáveis pela
extinção de mais de duzentas etnias indígenas, a troco de sesmarias e
outros trocos monetários como quintas e quetais…
Passado tanto tempo do ocorrido, antes tarde do que nunca,
20 do 11 acabou sendo decretado feriado, se bem que de âmbito municipal,
sujeito à aprovação das câmaras de vereadores de cada cidade; junto com
essa ação, agora em âmbito nacional, decretou-se Novembro o Mês da
Consciência Negra, como se a consciência precisasse ser estimulada em
nosso país onde a cor deveria ser interpretada como o resultado do
tempero dos índios nativos que sobraram após os bravos bandeirantes, dos
negros que saíram a fórceps da mãe África e dos inúmeros povos que aqui
fizeram a sua reforma agrária, convidados para excursionar pra
tropicália pela turma republicana, a fim de desenvolver a área rural com
as técnicas de domínio europeu, obviamente, enquanto o negro liberto
pela Princesa Isabel saia da alforria sem direito a nada, nem a um
mísero quintal para montar o seu barraco, e, assim, entre outras
conseqüências, vieram a surgir as favelas hoje conhecidas, que
desembelezam os centros urbanos e nos chamam a atenção, diariamente,
para o abismo social que ainda vigora nas terras invadidas pelas
caravelas.
Neste 2011, neste 20 do 11, faço torcida pras escolas e
seus professores de História, que dediquem, nem que seja um pequeno
capítulo, pra contar e desenvolver a consciência dos alunos sobre a
verdadeira trajetória dos afro-brasileiros…Salve Zumbi!!!
publicação original do Jornal Tribuna Impressa e portal Araraquara.com
dia 18/11/2011
dia 18/11/2011