A Seleção Brasileira do Samba

O Brasil ficará na berlinda esportiva mundial neste começo de segunda década do novo milênio. Copa do Mundo e Olimpíadas, eventos que, afora o tom mercadológico que hoje prepondera nas relações, acabam por dar destaque, respectivamente, ao futebol e aos outros esportes, os quais, espera-se, recebam um tratamento digno das autoridades do ramo e, aproveitando o evento, ganhem, de fato, apoio, incentivo e desenvolvimento em suas bases.
Desde a primogênita conquista futebolística mundial na Suécia, após o Maracanazzo frustrante de 1.950, futebol e samba sempre fizeram tabelinha de primeira, como faziam Pelé e Coutinho no lendário ataque da Vila que ainda tinha Dorval, Mengálvio e Pepe. Época do futebol arte, como também se classificava o samba, a partir das composições de Noel e Cartola, dois dos maiorais e imortais do gênero.
“O tempo passa”, bordão famoso do saudoso Fiore Giglioti – o moço de Barra Bonita – e, tal qual o samba, o futebol se pragmatizou, tornou-se produto de mercado, deixou de lado o encanto de sua arte para se postar na fila dos meros protagonistas do entretenimento, como se as tais onze camisas não mais representassem o suor da torcida que paga ingresso e não leva pra casa um drible inesquecível, guardadas as devidas e pouquíssimas exceções, que, nessa atual conjuntura, acabam recebendo tratamento de verdadeiros popstars, como assistimos a saga Neymariana.
O meu Corinthians, campeão brasileiro de 2011, conseguiu a proeza graças a 19 vitórias por um gol de diferença, conseguidas, via de regra, após estar perdendo e, na obrigatoriedade circunstancial, tendo que atacar, como se o ataque não mais fosse a máxima do esporte bretão, onde o gol quantifica seu apogeu artístico na partida; paralelamente, colecionando de há muito os lançamentos sambísticos, noto que a tabelinha não se dissolveu, pelo contrário, continua firme e forte, já que, no pelotão de frente escalado pela mídia oportunista de sempre, os discos de samba que eles produzem e monopolizam na divulgação nos guardam pouquíssima arte, apostando apenas no entretenimento barato, tentando se criar bordões e jargões que viriam a substituir versos do calibre de “semente de amor sei que sou desde nascença” – de Carlos Cachaça – ou então “vista assim do alto, mais parece um céu no chão” – de Paulinho da Viola.
No futebol, vivemos a era dos volantes…No samba, vivemos – a julgar o que a indústria fonográfica deixa passar para a maioria desatenta da população – a era dos refrões, vide o caráter reducionista que se dá hoje aos sambas de enredo, movidos pelos volantes, digo, refrões, óbvios, previsíveis, sem melodia marcante, versos mais que surrados, como os volantes, que surram o torcedor com passes errados e quilos de faltas. Como dá saudade das tabelinhas de Pelé e Coutinho e de Cartola e Noel…


publicação original do Jornal Tribuna Impressa e portal Araraquara.com
dia 16/12/2011