Seu Natalino José do Nascimento, o Natal da Portela, o “homem de um
braço só”, dando suas bandas pelos cafés do centro, finalmente encontrou
Noel de Medeiros Rosa, com a face um tanto amarrotada mergulhada numa
das mesas. Este, após recobrar, mesmo que parcialmente, os sentidos,
ficou incumbido de avisar Angenor de Oliveira, o mestre Cartola, em uma
construção próxima dali, para que no final do expediente rumasse para a
casa de Antonio Candeia Filho, o Candeia do Quilombo, pois lá haveria um
feijão gordo preparado pela Tia Vicentina…
Apesar de ainda estar na cadeira de rodas, o descendente quilombola
foi até seu muro divisório e pediu pro Chico Santana não esquecer de
convidar também o Manacéa, pra não faltar cavaco nem corvina de linha
pro aperitivo… Naquele momento, passeava pelo exato quarteirão o Roberto
Ribeiro, que se autoconvidou e se comprometeu a passar na casa de Silas
de Oliveira e Mano Décio da Viola, ainda um pouco sonolentos pela
madrugada estendida por causa da festa de fundação do Império Serrano…
E a notícia fluiu, pelos trens da central do Brasil, que fizeram
chegar o convite pro Nelson Cavaquinho, ainda nos bares da Cinelândia e
com seu cavalo amarrado a um poste da Light…Nelson bateu palmas na Casa
Edison, avisando o parceiro Guilherme de Brito, que atendia no balcão a
Carmen Miranda e o Dorival Caymmi, sedentos que estavam à procura de uma
nova partitura do Assis Valente, este, ainda um pouco bronqueado com a
“tábua” que levara da Pequena Notável…
Ao ver o alvoroço em frente à pharmácia onde labutava, Ataulfo Alves
não se fez de rogado e foi conferir o encontro, garantindo ele e suas
cabrochas depois das 18hs, quando fecharia o estabelecimento,
antecipando-se a dizer que teria mesmo que passar no Largo do Estácio e
dali carregaria Ismael Silva, Bide e Marçal, além do futuro Mestre
Marçal, que já embatucava um tamborim do berço enquanto o pai dava
acabamento no lustro de uma cristaleira…
E a notícia correu, chegou até São Paulo pelas ondas da Rádio
Nacional, ecoou nos ouvidos atentos de Adoniran, que, com seu
inseparável cão Peteleco, tratou de passar um pano no paletó pra poder
embarcar na primeira classe… E da Rádio Nacional, o aviso ecoou na Rádio
Record paulistana, vindo reverberar na nossa PRD4, onde Marcondes
Machado transcrevia tudo para os ouvidos atentos do Tchê, do Liminha, do
Chico do Couro e do recém-chegado amigo Gassen Gibran, que
imediatamente começou a procurar pelo LP doado pelo Nelson Cavalaria a
fim de garantir o tão sonhado autógrafo…
E assim, com o quintal do céu cheio de brasilidade, houve o réveillon
mais feliz de todos os tempos, felicidade contagiante de tal forma que
até São Pedro decidiu adiar o tradicional temporal da virada do ano para
não interromper a festança, que infelizmente, foi acordada pelo
desavisado despertador do cotidiano… Mas para não perder o sonho, iremos
estar hoje à noite no Ponto Chic do Salomão, a partir das 20 horas,
homenageando os bambas e amigos que nos deixaram, mas que deixaram
muitas saudades e boas perspectivas pro ano que daqui dois dias começa…
Apareçam!!!!
publicação original do Jornal Tribuna Impressa e portal Araraquara.com
dia 30/12/2011