Em 1.989 cai o Muro de Berlim. Episódio
de cunho político, marco do final do sonho socialista/comunista, como
alguns reducionistas apressados vieram a dizer. O capitalismo nada de
braçadas na piscina exclusiva do mundo, a menos de alguns poucos
“terroristas” do fundamentalismo do Islã, como ainda insistem em falar
célebres analistas internacionais que comem no prato das hipergrandes
corporações transnacionais.
Passados mais de vinte anos, percebemos que o
reducionismo político apregoado sobre o fato era uma visão no mínimo
ingênua, para não se dizer orquestrada no silêncio daqueles que tramam
nas penumbras das salas lobbies governamentais das repúblicas,
monarquias e ditaduras do Planeta Terra. O domínio político da situação
mundial desencadearia, naturalmente, reflexos profundos na cena
econômica, social e cultural.
Este processo de rota única, conhecido como globalização
capitalista, tem como premissa básica o controle total dos meios de
produção e consumo, permitindo que uma outrora pequena empresa
específica de um dado segmento mercadológico possa crescer, apoiada nos
bons relacionamentos políticos e, mais a frente, se abrir em novos
segmentos, com sua base administrativa cada vez mais sólida. No âmbito
cultural, especificamente na indústria fonográfica, vivenciamos esse
processo em nosso país, bastando dizer que há cinco gravadoras
multinacionais dominando mais que 90% do mercado e que tem braços
nadando em outras piscinas, como por exemplo na cinematografia e na
indústria de equipamentos eletrônicos.
O resultado dessa armação significou, como nunca havia
ocorrido em nossa história, a ditadura cultural, que pôde aqui se
estabelecer de forma avassaladora devido a, via de regra, má qualidade
do ensino fundamental e médio reinante, o qual aliena estudantes – os
futuros cidadãos – em prol das emoções criadas pelas novidades do
sistema global. No caso da música, então, nem temos adjetivos para
ilustrar, mas basta comparar o que ouvíamos nas rádios e TVs de
antigamente – Tom Jobim, Paulinho da Viola, Luiz Gonzaga – e o que
ouvimos hoje, sem necessidade de se citar nomes das novas
“celebridades”.
No Brasil – e ainda bem que muita gente percebeu cedo o
que ocorria nos bastidores dos cérebros das grandes potências mundiais –
em 1.992 houve a promulgação federal da Lei Rouanet de Incentivo à
Cultura, ainda carecendo de alguns ajustes que venham a democratizar sua
ação; mais adiante, e já no âmbito das Secretarias de Cultura dos
Estados, mais leis de incentivo à Cultura foram sancionadas (não só à
cultura, como também para esportes e outras searas sociais), permitindo
que a produção cultural não globalizante pudesse ter seu respiro,
mostrando através de projetos e programas que há com certeza luz no fim
do túnel, propiciando o surgimento da manutenção de nossas tradições bem
como a modernização e experimentação de novos elementos.
Ainda carecendo de maior visibilidade – já que os
“sistemas” de divulgação ainda passam pelas mãos tiranas de quem detém o
poder correlato – e se apoiando na internet e suas redes sociais,
podemos dizer que, em plena era da comunicação, estamos vivenciando um
momento de transição muito interessante e profícuo para a cultura
nacional em geral, bastando apenas que as empresas interessadas em
apoiar projetos e programas surgidos via leis de incentivo sejam
orientadas a respeito, e que percebam o grande bem que estarão fazendo
ao redirecionar parte de seus impostos já pagos para a grade cultural ao
invés da grade dos Ministérios e Secretarias de Fazenda. Isso é legal,
fará muito bem à saúde de toda a população brasileira…