A frase título acima foi cunhada por Chico Buarque
em verso que compunha uma de suas belas canções, começo de carreira,
virada de 60 pra 70. Período de ouro dos carnavais no sudeste
brasileiro, tanto nas ruas – com desfiles genuínos das escolas de samba
animados por sambas de enredo melodiosos levemente compassados onde o
brilho vinha das passistas, das velhas alas de baianas e das baterias,
tendo ainda algumas localidades os antigos corsos de carrões enfeitados
por confetes,serpentinas e belas mulheres fantasiadas – quanto nos
bailes dos salões dos clubes e sociedades carnavalescas, animados por
bandinhas nas quais as marchinhas davam o tom, sempre ironizando um fato
muito destacado pela mídia, um personagem celebrizado do momento, e sob
a batuta de trombones, saxofones e surdos/baterias que não deixavam o
pessoal parado nem um minuto, das 23 às 4 da matina, como
confidenciou-me recentemente Zé Sabaúna (José Carlos Cervino), exímio
baterista da terra, que participou ativamente deste cenário.
O tempo passou, muita coisa mudou no carnaval do
sudeste brasileiro. O Chico Buarque silenciou sua inspiração pelo tema
carnaval, após o retumbante “Vai passar”, em parceria com Francis Hime,
não mais escreveu nenhuma linha musicada com esse foco, ao que me
lembro; as escolas de samba se agigantaram, seus sambas de enredo não
mais mostram, via de regra, melodias elaboradas como outrora, se
aceleraram, aliás há enredos inclusive comprados por cidades, locais de
entretenimento, uma verdadeira negociação é o que virou, com a
reformatação dos desfiles, agora comandados por carnavalescos
estigmatizados e padronizados pela figura de Joãozinho Trinta, onde o
brilho vem das alturas, dos carros alegóricos monumentais e das
celebridades impostas pela comunicação de massa, quase nuas, saindo de
lado as baianas, os baluartes de suas alas de compositores, o gingado de
suas passistas e o gogó de seus intérpretes. Não há mais corsos, e nos
bailes dos salões dos clubes e sociedades carnavalescas, as marchinhas
não mais dão o compasso, agora modificado pelo repertório massacrante e
massacrado durante o ano anterior, que nada tem a ver com o ritmo
tradicional, sendo as bandas obrigadas a tocar sucessos do axé music(?),
do sertanejo universitário, do funk, do pagode, do tecnobrega(??), uma
completa salada tropical, cena na qual o folião agora não mais se
diverte e sim, assiste ao desempenho das atrações colocadas no palco,
elas sim, que acabam se divertindo com os foliões, numa clássica
inversão dos papéis.
Apostando na volta aos bons tempos aqui na cidade, o
pessoal da Associação dos Amigos da Praça das Bandeiras arregaçou as
mangas e, com a cara e a coragem daqueles que sabem que a preferência
(melhor seria dizer aceitação) da maioria populacional não é sinônimo de
qualidade, estão divulgando e convocando a todos para participarem de
um concurso de marchinhas carnavalescas, cuja finalíssima, após seleção
feita após o dia 20 de Janeiro (quando se findam as inscrições) se dará
no próximo três de Fevereiro, com a interpretação ficando a cargo do
famoso Grupo Seresteiros, cuja vocalização, instrumentação e figurinos
traduzem um caso a parte no quesito qualidade musical.
Atenção você, que ainda tem seus neurônios em ordem e
carrega consigo a esperança de dias melhores para a nossa verdadeira
cultura, atenção você que ainda não deu o braço a torcer e acredita que
há possibilidade de se reconstruir a sociedade pautada por valores tais
que a boa música faça parte do cardápio, atenção você que nunca compôs
profissionalmente mas sabe que o som que hoje prepondera na grande mídia
não toca sua alma, habilitem-se, corram atrás, vistam-se da mais pura
brasilidade, vão até o Bar do Zinho (falem com o Fran) ou até o
Castelinho (falem com o Rodolfo), ou entrem no blog marchinhas2013@blogspot.com
e preencham a ficha de inscrição, tomando pé do regulamento…Vai valer a
pena se sentir mais brasileiro, voltando a ser aquele folião que
comanda e faz a folia, quebrando as regras atuais. Por enquanto, ainda
estou acreditando e me guardando pra quando esse velho novo carnaval
chegar…