JANEIRO E FEVEREIRO, FAIXA NOBRE DO SAMBA?

E todo o ano é a mesma coisa. Em Janeiro e Fevereiro, a grande mídia reserva um espaço generoso para os festejos do Momo, nos quais, teoricamente, o samba é o patrimônio cultural brasileiro em destaque. Sambas-de-enredo (ou seriam marchas-de-enredo, devido à velocidade com a qual são executadas?) ilustrando as diversas escolas – daqui, de São Paulo, do Rio de Janeiro – geralmente compostos por um “escritório” de autores(como diria o mestre Monarco, que recentemente nos visitou) – seis/sete/oito parceiros para se chegar a um “refrão contagiante” e só, via de regra…
Já faz muito tempo que se deu a dissociação do samba com as escolas de samba, cronologicamente marcada pela oficialização da Marquês de Sapucaí como passarela do samba  referencial no carnaval, nos idos de 1.984. O carnaval como produto turístico se impôs, o patrimônio cultural brasileiro teve que fazer quatrocentas concessões para que esse modelo se perpetuasse e servisse de padrão para outras metrópoles e cidades deste patropi…
As escolas de samba do Rio e Sampa, em sua grande maioria, tem em sua presidência figuras ligadas à contravenção/tráfico de drogas/tráfico de armas, tanto que vira e mexe notícias surgem nos telejornais dando conta da prisão – temporária – dos patronos, muito provavelmente em função de alguma mudança de comando do policiamento, que, salvo exceções, jamais inibirão o formato hierárquico da alta cúpula das mesmas.
É do interesse do poder público – e privado – que um crescente número de turistas visitem e participem dos festejos carnavalescos, uma vez que muitos dólares e euros – mesmo em época de braba recessão mundial americana/européia – acabem sendo gastos, sejam nos hotéis, nos restaurantes, nos táxis, e, claro, nos guichês das escolas, pois uma fantasia para turista estrangeiro custa muito caro. E como, em nossa sociedade, tudo se explica pela rentabilidade financeira, se haverá lucro pra toda essa cadeia mercadológica, porque mudar a fórmula???
A fórmula é essa que aí está: um samba-de-enredo ultra-acelerado, para se conseguir desfilar no tempo disponível um número elevadíssimo de integrantes das alas – número este inchado pelos turistas – e, consequentemente, adeus ricas melodias, frases poéticas tão características dos sambas-de-enredo de outrora…No lugar dos grandes passistas e ritmistas estarão as celebridades televisivas, mulheres siliconadas rebolando seus corpos emborrachados. Nas alegorias, carros cada vez maiores, elevados, transferindo o centro de gravidade do gingado original do samba, das “cadeiras” das mulatas, para os acenos desritmados dos convidados especiais em destaque.
E ainda dizem que em Janeiro e Fevereiro o samba está em alta, é como se fosse a sua faixa nobre anual. O samba ou a indústria cultural do carnaval???
publicação original do Jornal Tribuna Impressa e portal Araraquara.com
dia 27/01/2012