QUE SAUDADES DA PROFESSORINHA

         Depois de mais de quatro décadas, readentrei ao lúdico espaço
da Escola Estadual Pedro José Neto. Viagem no tempo, na história, na esperança
de reencontrar, nos bancos do pátio, os primeiros amigos.
Junto com a mama Dona Rafa, que
por sinal se aposentou professora trabalhando ali, subimos a baixa e preservada
escadaria, chegando ao saguão de entrada, intacto, abrindo em perpendicular aos
mesmos corredor e escada de acesso ao segundo pavimento, incólumes, altivos, iluminados
pelo belo vitral também remanescente. Momentos de paralisia, esperando o sinal
do recreio tocar, talvez, ouvindo, ao fundo, o silêncio da memória buscando as
cenas ali vividas por quatro anos seguidos, final da década de 1.960, ditadura
estampada nas brochuras – adquiridas no também imortal Bazar Sensação na mesma
esquina, revigorado –  brochuras estas,
ufanistas, que carregavam os dizeres “jamais verá país algum como este”.
A arquitetura do prédio
principal foi preservada – patrimônio histórico tem este privilégio, ainda bem
– o pátio guarda o velho espaço da merenda, se bem que foi rediagramado, com
quadra esportiva coberta e outros compartimentos, tudo muito bem conservado,
inclusive um banco revestido de granilite ofertado por um banco que hoje não
mais existe.
Na janela da alma entoava, sem parar, o samba de
Ataulfo Alves “Meus tempos de criança”, de 1.957, feito para a sua Miraí,
interior mineiro. De repente, Miraí era Aracoara, tenho certeza de que o velho
bamba não se importaria de uma apropriação indébita momentânea. “(…)Que
saudades da professorinha/que me ensinou o
beabá”, como um mantra,  instigava-me
a lembrar o nome de Dona Mercedes, minha primeira professora, que teve a
paciência – e como as professoras eram respeitadas e valorizadas em nosso tempo
de criança – e a sabedoria de lidar com a gente, que, convenhamos, apesar de
fazermos as nossas artes, tínhamos um profundo respeito pelos professores, por
que, antes de mais nada, tínhamos aprendido a respeitar os mais velhos com os
nossos pais, coisa que hoje não se vê muito comumente entre as famílias.
A tarde estava magnífica, o sol da Morada fazia jus ao
codinome da cidade fundada pelo próprio Pedro José Neto, o primeiro morador da
sesmaria, que passou por Vila e Freguesia para depois se emancipar como
município, hoje com 196 velinhas apagadas, recentemente.
O primeiro morador/fundador intitulando o Grupo
Escolar onde tudo começou, vulgarmente conhecido como “Pedrão”, a primeira
professora, os primeiros amigos – lembro-me do Luiz Alberto, o rei do espirro
artificial, estimulado por um cotonete de papel narina adentro que nos fazia
rir de perder o fôlego –  a primeira ida
à diretoria – não, esta foi no IEEBA, já no ginásio – são marcos inexoráveis na
vida de todos nós, guias referenciais da história de cada um, capítulos
insubstituíveis e inesquecíveis, não me deixaram ecoar como o velho Ataulfo em
seu melancólico tom de fechamento do samba canção, que termina com “(…)eu era
feliz e não sabia”. Pelo contrário, acho que somos muito felizes, inclusive
porque tivemos um ensino público de qualidade, fato que, infelizmente, não se
manteve para as novas gerações, devido, também, à desestruturação familiar…