Como nos tempos imperiais – D.Pedro II nos visitou em meados de 1.885
– a cidade, amanhã, depois de mais de século, receberá a visita de um
monarca…Só que oriundo da corte do samba, localizada no subúrbio carioca
de Riachuelo.
Estamos falando de Hildmar Diniz – assim grafado nos cartórios civis –
nascido no ano de 1.933, pouco tempo depois do nascimento da sua querida
Portela, do também suburbano bairro de Oswaldo Cruz. Na infância,
ganhou o apelido de Monarco devido a um amigo achá-lo parecido com um
personagem de estórias em quadrinhos que saia num gibi da época.
Perambulando pela Baixada Fluminense – Duque de Caxias mais precisamente
– ele começara a ouvir falar, pelo rádio, dos desfiles das escolas de
samba, evento este que angariava mais e mais prestígio, visibilidade e
interesse pela prefeitura do então Estado da Guanabara. Muito se falava
da competição para eleger o Cidadão Samba, cargo que por muitas vezes
foi ocupado pelo lendário Paulo Benjamim de Oliveira, o “seo” Paulo da
Portela, fundador em 1.928 da azul e branco de Madureira, bairro maior
que ancora Oswaldo Cruz, reduto portelense.
Nas idas e vindas de sua família humilde, numa das várias mudanças,
coincidentemente, seus pais desembarcaram de malas e cuias na décima
sexta estação da Central do Brasil, no caso, Oswaldo Cruz. Por capricho
do destino, repentinamente, Hildmar estaria muito perto de conhecer o já
folclórico fundador. Dito e feito, e com muito pouco tempo de
convivência – em 1.949 o mestre Paulo viera a falecer precocemente – o
aspirante portelense inicia sua trajetória no mundo do samba, compondo
sambas de enredo e sambas de terreiro, com os quais acaba por ser
convidado para integrar a ala de compositores da escola, cargo
honorífico de grande respeito na comunidade.
E dali em diante, pela beirada do prato, sempre com muita dignidade,
atenção, perseverança e respeito aos maiorais que o cercavam, de forma
muito natural – e apesar da sua pouca idade na década de 1.960 – acaba
por virar sinônimo da escola, elemento de ligação com as gerações de
Paulo, o fundador, e Paulinho da Viola, o seu sucessor, conforme versos
do belíssimo samba “De Paulo a Paulinho”. Paulinho, inclusive, em 1.970,
no início de sua fulgurante carreira – e atento à riqueza musical do
berço portelense – vem a produzir o inesquecível LP “Portela, passado de
Glória”, onde materializa, através do disco, todos os grandes bambas da
famosa Velha Guarda da Portela.
Desse trabalho em diante, Monarco desponta, inquestionavelmente, como o
grande líder da entidade recém-criada. Em 1.976, após entregar de
bandeja para Martinho da Vila o sucesso “Tudo menos amor” – parceria com
Walter Rosa – entra em estúdio para gravar seu primeiro trabalho
autoral. Dono de uma voz grave de timbre único e incomparável, ano a
ano, nosso professor aumenta a legião de seguidores, admiradores de sua
simplicidade, sabedoria e categoria na arte de versar e cantar.
Amanhã, 21horas, no Sesc, com entrada gratuita, eu estarei, junto com
todos os amantes do samba da região, recebendo o Monarco, em companhia
de Chapinha, do Samba da Vela paulistano, outro grande amigo que o samba
me deu. A corte do samba estará sendo formada…Perfilem-se…
publicação original do Jornal Tribuna Impressa e portal Araraquara.com
dia 13/01/2012