Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão…

E o Dicró se foi. Se juntou, no céu, ao clã Silva – Bezerra e Moreira – que com ele participaram do impagável “Os três sambistas in concert”, álbum musical lançado em 1.995, parodiando os três tenores Pavarotti, José Carrera e Plácido Domingo, os quais faziam o maior sucesso em tournée mundial naquele período.
Carlos Roberto de Oliveira – CRO suas iniciais – a partir de dedicatórias por ele escritas, as quais vinham precedidas de um DE, foi mais um bom malandro, daqueles que vendiam o almoço pra pagar a janta e tirava tudo de letra, a partir de seu quartel general na Baixada Fluminense.                                       
Ciente e praticante das limitações sociais impostas aos suburbanos e periféricos deste país, Dicró, com sabedoria e ironia, mandava seu recado em sambas cheios de segundas intenções, muitos dos quais homenageando sua sogra, mas não apenas sua sogra. Lembro-me de um samba que cantávamos em muitas rodas no extinto Bar do Belão, rua 4 esquina com Cristovão Colombo, nos idos de 1.990, o qual se intitulava “Cabide de Emprego”. Em seus versos iniciais, não deixava dúvida nenhuma aonde queria chegar: “Se não fosse o crime, muita gente morria de fome/ O vagabundo é quem garante o pagamento dos homi”/Porque um preso dá vários empregos , você pode acreditar/É um polícia pra prender/Um delegado pra autuar/Um promotor pra fazer a caveira/Um juiz para condenar/Um carcereiro pra tomar conta/E um advogado pra soltar…”.
Quase ao final de sua passagem por aqui, Dicró teve seu momento de glória midiática, a partir da “descoberta” pelo Globais de sua composição “Praia de Ramos”, homenagem ao piscinão homônimo criado pela prefeitura carioca para que os habitantes da zona norte local não precisassem(?) se locomover para curtir as praias (da zona sul da cidade, geralmente frequentadas por turistas).
Irrreverente, sempre alegre, posou como o representante da terceira geração de bons malandros fotografados em frente ao Teatro Municipal do Rio para a capa do encarte do citado disco. Moreira – o Kid Morengueira – puxando a fila(se foi em 2.000), Bezerra da Silva chegando depois pra logo depois se ir (em 2.006), e agora o Dicró. Todos cronistas do cotidiano, às suas épocas, e, em comum, crônicas nas quais pegavam no pé dos políticos tupiniquins, sendo que as mesmas, desde a estreia do pioneiro Moreira – 1.936, com o advento do samba de breque – se mostram rigorosamente atuais, pois enquanto não houver a tão propalada( e esquecida) reforma política, os fatos resultantes soarão como meras repetições…Há sete anos surgiu o cacifeiro Marcos Valério, agora flui em águas revoltas o Carlinhos Cachoeira, amanhã, um terceiro, podem apostar, sempre com nomes/apelidos não tão comuns, até para que se destaquem na história. Quem será o novo caixeiro viajante das iminentes campanhas eleitorais???…
Para homenagear, não só ao Dicró, mas ao trio que agora se restitui em sua formação divinal, e, aproveitando para destacar nossa saga de ter de conviver com a politicalha corrupta, nefasta e impune deste nosso grandioso país, nada melhor que relembrar os versos do refrão assinado pelo Bezerra da Silva: “Se gritar pega ladrão/não fica um meu irmão…”. Não se trata de mau agouro com relação à tal CPI que se está montando…É que no conselho de ética do senado brasileiro figura Fernando Collor de Mello. É mole???…